Tuesday, March 10, 2009

A felicidade é

Um momento.
Não precisa ser mais que isso.

Um momento em que cheira a primavera e a brisa fresca da manhã traz já o toque meigo do sol. É conduzir de vidros todos abertos, a escutar aquela musica que te apetece mesmo.

É sentir o prazer de estar vivo naquele momento e a vontade de o saborear.

A felicidade são 5 minutos sem infelicidade. E é bom.

Friday, February 20, 2009

Frases premonitórias

Em 1867 Karl Marx escreveu:

"Os donos do capital vão estimular a classe trabalhadora a comprar bens caros, casas e tecnologia, fazendo-os dever cada vez mais, até que se torne insuportável. O débito não pago levará os bancos à falência, que terão que ser nacionalizados pelo Estado"
Karl Marx, in Das Kapital, 1867

Durante a maior parte dos 142 anos desde que foi escrita, esta frase foi considerada apenas estranha e absurda mas hoje pode , efectivamente, ser considerada uma antecipação da realidade.
Entusiasmado por esta constatação, decidi investigar na minha biblioteca pessoal e devo confessar que descobri outras frases também claramente sub-valorizadas desde o tempo em que, sabiamente, foram escritas. Para vossa conveniência traduzi para Português, para que não percam pitada da capacidade de projecção dos autores.

Começo pela preocupação já demonstarada em 1966 relativamente à corrupção e abusos de poder, numa altura em que todos viviam o Flower Power e Alcochete ainda nem existia; atentem neste texto:

A Cosa Nostra está estruturada como qualquer governos ou qualquer grande empresa (...). No topo está o capo di titti capi, ou seja, o chefão de todos os chefões. As reuniões são em sua casa e ele é o responsável pelo fornecimento de carnes frias e dos cubos de gelo. Uma falha neste domínio significa a morte imediata (a morte, por acaso, é uma das piores coisas que pode acontecer a um membro da Cosa Nostra e muitos preferem simplesmente pagar uma multa).”
Woody Allen, Getting Even - 1966

Mas já antes, outro conhecido autor havia referido o lado negro do dinheiro e a sua má influência na conduta humana:

Destruímo-los de muitas maneiras. Primeiro economicamente. Ganham dinheiro. É apenas por acaso que um escritor ganha dinheiro, embora os bons livros sempre venham um dia a dar dinheiro. Então os nossos escritores, quando ganham dinheiro, elevam o seu nível de vida e estão tramados. Têm que escrever para sustentar a casa, a mulher e o resto e escrevem porcarias
Ernest Hemingway, Green Hills of Africa, 1935

De um discernimento cortante é a visão que, já em 1956, Boris Vian tinha da voda moderna:

Tiveram que se ir embora, jantar. Quando se trabalha no dia seguinte, não se pode passar toda a noite fora
Boris Vian- L'Automme à Pekin - 1956

Para o fim deixo o mais surpreendente exercício de civismo e moral. Há mais de 200 anos, Sade, preocupado com a gravidez não desejada e a transmissão de DST’s – algo que não foi nada bem interpretado no seu tempo e lhe valeu a cadeia – ousou escrever:

“(...) aquilo que se sente quando este membro se introduz nos nossos cus é incontestavelmente preferível a todos os prazeres que possam resultar dessa introdução pela frente. Além do mais, quantos perigos não são evitados à mulher? A sua saúde corre menos riscos e não existe a menor possibilidade de gravidez.”
Marquis de Sade, 1795, La philosophie dans le Boudoir

Meus amigos, se isto não é visão do futuro, não sei o que será!

Wednesday, February 11, 2009

Notícias de 2009

Desde o fim de ano que não pegava num teclado para escrever (hesitei e voltei atrás confesso; tinha escrito «pegava numa caneta» e depois percebi que isso actualmente é uma força de expressão e não uma realidade. Fiquei triste e pensei: ‘vou escrever um parêntesis maior que a frase, a explicar que as forças de expressão me oprimem e não gosto delas’, e assim foi).

Dito isto, começo mais ou menos onde vos deixei. Promessas de ano novo. Ao contrário de toda a gente que conheço, eu tenho cumprido escrupulosamente as minhas. Más línguas dizem mesmo que denotam um certo prazer sádico no seu cumprimento. A essas más linguas eu respondo: Fuck off! Tivessem escolhido melhor as vossas!

Mas compreendem certamente que o meu afastamento da escrita não se deve ao acaso ou à preguiça, mas antes a um conjunto de temas que têm afectado o início do nono ano do milénio (eu sei que é o oitavo, mas soa melhor e faz ‘pandan’ com 2009). Temas emotivos e empolgantes como o Caso Freeport, o desfecho do Caso Casa Pia, o desemprego - que afecta em especial os emigrantes brasileiros que treinam o Chelsea - a crise financeira internacional e, provavelmente motivado por esta última, o encerramento do quiosque no Jardim das Amoreiras.

No entanto, tão pouco foi qualquer um destes temas que me fez de novo escrever. Fui inapelavelmente impelido para o teclado pelo sugestivo título das notícias de hoje, de que os Bispos nacionais apelam a que se vote contra quem defende o casamento homossexual.

Gosto sempre de pessoas que apelam ao voto! Todos sabemos o problema que representa a elevada abstenção. O alheamento e desresponsabilização que isso representa e que não traz nada de bom. Mas poucos - muito poucos – têm a coragem de dizer assim alto e ainda tão longe das eleições, que é preciso ir votar. Um grande bem haja, senhores bispos. Mas vão ainda mais longe! A Igreja está genuinamente preocupada com os problemas financeiros com que nos deparamos. Preocupada em iniciativas que mitiguem o sofrimento das famílias e os ajudem a superar a crise.

Depois dos apelos à poupança nos preservativos, do incentivo ao recurso a clínicas de aborto clandestinas q - por operarem sem uma estrutura de custos fixos - podem levar mais barato, do exemplo que frequentemente dão em como sai menos dispendioso aliciar rapazinhos novos da Igreja do que pagar a profissionais da prática do amor, agora sugerem que não se desperdice dinheiro em festas sem sentido como o casamento, essa palermice que une duas pessoas pelo amor e isso. Eu só posso concordar. Nada como gente habituada a trabalhar para ter ordenado, a suar para poder pagar os anéis, para nos ajudar a superar o que realmente nos atrapalha a vida.

Certo que este não é um tema fácil. É fracturante, polémico e admito que muitos de vocês defendam o casamento. Eu não; sou contra! E isto, como em tudo na vida, não depende nada das opções sexuais de cada um. Mas eu tenho os Bispos do meu lado!

Sunday, January 18, 2009

Não fiques com ele

Vais-te embora, podes levar o que pertence a ti
Vais-te embora, podes levar o que pertence a mim
Vai-te embora, leva o que te apetecer
Leva contigo o que te apetecer
Vai-te embora, mas deixa a minha razão de viver...

...Podes ficar com as jóias, o carro e a casa, mas não fiques com ele;
e até as contas no banco, a casa de campo, mas nãp fiques com ele...



...porque o comando é MEU!!



Disclaimer: Qualquer semelhança com uma música da Ágata ou com um anúncio ao provedor de cabo da PT, é mera coincidência.

Tuesday, January 06, 2009

Lembram-se?

Por vezes recordo-me de quando tudo era fácil.

De quando um sim era um sim, um não era um não, um desejo era uma vontade e um brinquedo era a felicidade?

Lembram-se do maior medo ser o escuro? Da maior dor ser a palmada? E da felicidade que eram as incertezas da vida: quais os cromos da próxima carteirinha, qual a minha cor preferida, o que vou ser quando for grande?

Lembram-se de querer crescer?
De ter certezas? E perguntar ao pai as dúvidas?

Eu também me lembro! Lembro-me de querer estar onde estou hoje! E só não sei porque raio hoje queria estar outra vez lá.

Sunday, January 04, 2009

Valsa com Bashir

Há poucos mas, felizmente, existem filmes que nos acertam como um soco no estômago. Que nos ficam na memória durante dias depois de sair do cinema. Há sons e frases que, mesmo em Hebraico, flutuam dias na nossa cabeça antes de escolherem um lugar para ficar.

Não sou crítico de cinema, sou só um apaixonado e um colaborador do Mooviz, mas este filme atingiu-me com uma força inesperada.

Talvez seja por estar a ler o excelente "A Guerra pela Civilização" de Robert Fisk, sobre o Médio-Oriente em geral, talvez seja simplemsmente porque tinha que me tocar.

Não percam "Waltz with Bashir" e comprem a banda sonora mal saiam da sala (já está no Itunes).

Monday, December 22, 2008

Decisões de Ano Novo (que pretendo realmente cumprir)

É um cliché dos mais gastos, este das decisões de ano novo. E é também dos momentos em que mais se expressam boas intenções que nunca serão mais que isso mesmo, intenções, sem real vontade de passarem a acções.

Por tudo isso, odeio a estafada conversa dos balanços de fim de ano e das promessas de ano novo. Bull Shit. Balelas. Conversa para boi dormir. Tretas.

Sempre apreciei mais as acções e na verdade, as melhores nem são anunciadas com antecedência:

– Senhores jornalistas, chamei-vos aqui só para anunciar a minha decisão de este ano salvar das chamas um indivíduo que vai cair numa fogueira ao pé de mim, no dia 13 de Junho, às 22.46h, depois de ter bebido uns copitos a mais.

Não pega, pois não? Um gajo olha para o indivíduo que diz isto e começa logo a desejar-lhe que vá ter sexo com senhores africanos bem dotados em vez de nos fazer perder o nosso tempo. No entanto, todos nos deleitamos a ler como a Maia ou a Lili Caneças decidiram em 2009 fazer (mais) um lifting, ou deixarem de dar entrevistas a revistas cor-de-rosa para dedicarem mais tempo ao filho (se ainda se lembrarem do nome dele).

Com os balanços de fim de ano é o mesmo. Desde o jornal de referência ao pasquim mais vulgar, desde a TV nacional à televisão regional da Baixa da Banheira... todos os órgãos de comunicação social se dedicam a seleccionar os eventos e as imagens mais marcantes do ano. De um mero ponto de vista do entretenimento, acho interessante, mas... absolutamente inútil. Balanços fazem-se para tirar consequências. Como as avaliações de desempenho.

Proponho que passemos antes a fazer avaliações de desempenho do ano:

- Ora... 2008, não é?
- Sim senhor.
- Muito bem... sabe, em termos de competências comportamentais e valores, vou ter que lhe dar abaixo das expectativas.
- Mas... eu não estou a ver porquê.
- Desculpe, nem preciso de lhe recordar a palhaçada das eleições em Angola, ou aquilo no Zimbabwe, pois não? Por outro lado, Guantanamo, Iraque... enfim... não vejo aqui um real esforço da sua parte em mudar os valores e comportamentos essenciais para nós.
-...
- Bom... vamos continuar; competências técnicas. Eu aqui tenho sentimentos mistos, oh 2008. Por um lado a cena de se ter generalizado a vacina do papiloma humano foi bem esgalhado, mas quer dizer... mais um ano e ainda não há uma única alternativa viável ao petróleo.
- Desculpe lá, mas temos os carros eléctricos, eu ajudei bastante nisso.
- Pois....e a electricidade que usam para os carrgar vem das érvores, não é? Oh gajo, ainda usam petróleo ou carvão para a produzir. É esse o comportamento que critico. Lamento, mas vou mesmo ter que o despedir. E para o ano contratamos o 2009, está decidido.
- Porra pah, todos os anos a mesma coisa, não há um ano que consiga ficar em funções mais que um ano!
- Temos pena. Para a próxima faça formação, leia os manuais, qq coisa assim. Adeus.

Isto sim, daria indicadores preciosos ao ano que entra sobre o que fazer e o que se esperava dele. Agora quando escolhemos como imagens do ano o polícia a levar com um cocktail molotov na cabeça, ou o avião que se esborracha no chão em Barajas, que sinal estamos a dar ao ano que se inicía?

Estranho, não é? Mas é, provavelmente, um defeito meu, reconheço.
Mas, como aos restantes defeitos, tento bastante combatê-los. Por isso, este ano vou arriscar 10 decisões de ano novo, que, para ser diferente, tenciono mesmo cumprir:

1. Vou beber mais whisky velho;
2. Não vou cumprir os limites de velocidade;
3. Vou olhar para os rabos das mulheres em geral, sem pensar em nada de edificante durante esses instantes;
4. Vou continuar a tratar bem as pessoas que amo e com indiferença os restantes
5. Vou ser arrogante, mesquinho e invejoso sempre que isso me apetecer;
6. Vou ser generoso e carinhoso quando não houver alternativa.
7. Vou ver mails com gajas nuas no horário de trabalho, mas mantendo o ar sério e profissional
8. Vou acelerar em direcção às velhotas que atravessam fora da passadeira, só pelo prazer de as ver assustadas
9. Vou escrever estas merdas aos amigos e esperar que digam que gostam para ficar com o ego inchado
10. Não volto a tomar decisões de fim de ano (ou se tomar, não mais que 5 ou 6, que as restantes já custaram a escolher).

Há dias Assim

Um gajo acorda e, depois do banho, vai enrolado na toalha para a cozinha. Enche a tijela dos cereais, senta-se no sofá edepois de procurar o comando da televisão por meia hora lá carrega no ‘on’ para ver as notícias da manhã.
Eu repito: carrega no ‘on’... isso, no ‘on’. Mais uma vez. E outra. FUCK! Mas que se passa com a merda da televisão?
Pouso os cereais, afasto o raio do LCD da parede, desligo cabos, ligo cabos, carrego em botões, chamo nomes à mãe do fabricante, irrito-me e desisto. Pifou. Raios... Eu tinha vontade de um LCD maior, mas este ainda nem tem um ano, não exageremos...
Sento-me e como os cereais já frios, enquanto penso na reparação do LCD, mais na conta da oficina que está para chegar, no que já gastei em prendas de natal e no facto de a mudança de emprego significar que só volto a receber um ordenado no fim de Dezembro. Fuck!
Chego à rua e não páro de espirrar. A garganta dói-me, estou quase sem falar. Faringite! Raios, ainda por cima está frio e chove.
A meio da manhã telefonam-me de Maputo:
- Está imenso calor, vamos agora para a esplanada almoçar, mas manda aqueles ficheiros até às vossas 12h, sim?
Sim, sim! Vão lá apanhar sol, oh caraças, que eu fico aqui enfiado no frio a trabalhar para vocês.
Mais amuos, telefonemas, reuniões... bolas já são quase 16h. Toca o telefone; olha, um amigpo de Angola, que fixe, deve estar com saudades.
- Estou Rui, tudo bem?
- Oi, tudo! Como estão as coisas por Angola?
-Óptimo, óptimo. Olha, tens o telefone da Roça das Mangueiras? Vamos marcar uma festa na praia e tu costumavas ter o contacto deles.
... (para dentro: Fossem mas era para o caralho, aqui tá frio e chuva e só se lembram de mim para isto?)
- Tenho o telefone deles, tenho. Eu mando-te por sms já.
- Fixe, mas n demores que vamos sair agora para ainda ir ali ao Caribe na Ilha apanhar um sol
- Grrrr
- Hum, o quê?
- Nada, nada, mando já.
Finalmente, acabo todos os ‘to-do’ do dia e preparo-me para sair. Ah merda! A TV avariada. Ligo o computador e procuro na net a assistência técnica. Mas quem me manda comprar marcar estranhas?
- Estou, TV Marcelo?
- Sim, diga por favor.
Explico o problema, pergunto quando odem lá ir buscar a dita
- Ora sôr Alberto Azinheira, deixe cá ver.... amanhã às 11h, pode ser?
- Às 11??, Não, nãopode ser, estou no escritório. Tem outra possibilidade?
- Bem... nesse caso só sábado de manhã, entre as 10 e as 13h.
(AAAARRRRGHH, vou ficar a manhã de casa fechado em casa à espera destes gajos...)
- Sim.... pode ser!

Bolas.... há dias que um gajo mais valia ser Banqueiro e pedir a liquidação do banco por dí vidas de 700 milhões.

Tuesday, January 15, 2008

Meet Bonga



Meet Bonga!

Bonga is a nice, cute, teddy bear who travels the world in RC's backpack. He is a cousin of Berti, the french teddy that shares the bed with Sylvie.

As he's always in my backpack, he has some pretty curious points of view about a lot of things. We've decides that, from now on, he'll be sharing them with you, as we get to know our little world.

Lhe aguarda só, ya?

Tuesday, December 11, 2007

Conto de Natal

Desde que, há 106 anos, Turlin começara a trabalhar com o Pai Natal, nunca voltou a passar o Inverno com a família, na sua cidade natal de Doni Heiland, a cidade de onde eram originários a maior parte dos duendes que trabalhavam no Pólo Norte, nas instalações da Santa’s Toy City Inc.

Turlin era o responsável do departamento de Investigação e Desenvolvimento de novos brinquedos e até aí sempre tinha adorado o seu trabalho. Tinha a possibilidade de dar largas à sua imaginação e criatividade e o Pai Natal sempre tivera plena confiança nos brinquedos e jogos que Turlin produzia, dando a sua aprovação incondicional.

No entanto, nestes últimos 3 anos Turlin começou a sentir a semente da desmotivação a germinar dentro de si. A longa noite do Inverno Ártico começava a custar cada vez mais a passar e os meses a fio enclausurado no laboratório ou no estirador já não lhe pareciam tão estimulantes.

Turlin era assim mesmo, um inconformado e segundo o prório Pai Natal, isso era o que fazia dele o melhor criador de brinquedos que a Santa’s Toy City já tivera. Mas não foi só nas qualidades criativas que Turlin fez escola; ele foi o primeiro duende a reclamar um aumento salarial e foi directamente responsável pela criação do STRAPON, o Sindicato dos Trabalhadores do Polo Norte.

Aliás, é relembrada como uma anedota corporativa, a monumental discussão que Turlin teve na sauna do health club da Santa’s Toy City, em que exigiu ao Pai Natal uma mota de neve com 2 lugares e 165cv sob ameaça de se demitir e fugir com a patente do Nenuco com fraldas.

Assim era ele, um duende refilão, mas acarinhado pelo Pai Natal pela sua competência, já que foi Turlin que esteve por trás de brinquedos que todos nós conhecemos e com os quais todos já brincámos, como o Monopólio, o Action Man, os preservativos com sabores ou os vibradores de 3 velocidades (mais marcha atrás).

Pois neste ano, as coisas não estavam a correr nada bem e o ambiente entre Turlin, os seus colegas e o Pai Natal andava um algo pesado. Tudo começou quando Malaguin, o duende director do departamento de Higiene e Segurança nos Brinquedos, foi fazer queixa ao Pai Natal sobre o novo brinquedo que Turlin estava a desenvolver. Segundo Turlin, era uma inocente linha de brinquedos a enviar às crianças Israelitas e Palestinianas, mas na verdade consistia num kit de DIY para preparar um colete de explosivos e vários bonecos articulados que os vestiam e se desmembravam com o deflagrar da explosão.

Uns dias depois, o Pai Natal convocou Turlin para o seu gabinete e tiveram uma conversa bastante séria.

- Isto não é aceitável, Turlin, onde andas tu com a cabeça? – Disse-lhe
- Não vejo qual é o problema, o ano passado levaste bonecos só com uma perna para as crianças de Angola e não te queixaste.
- Levei?! Hã??!!
- Sim, claro que levaste!
- Merda, por isso é que as cartas que recebi de Angola este ano eram todas a insultar-me a mim e à minha mãe. Isto não pode continuar. Acabei de decidir, de hoje em diante, nenhum produto teu pode sair sem a aprovação do Malaguin e minha.
- Mas...
- Nem mas nem meio mas, Turlin, podes brincar o que quiseres, mas com os brinquedos finais, os que enviamos, tens que ser cuidadoso. Sabes como são esquisitos os gajos das ONG’s e mais os caramelos da CE, especialmente agora lá com o Durão na Comissão, tu não me queres levar à falência, pois não?

- Não vejo o problema, com a massa que ganhas dos gajos da Coca Cola, bem podes deixar a merda dos brinquedos.
- Chega, está decidido e não quero mais conversa. Se estás com problemas, fala com a Mãe Natal, ela bem precisa de clientes, que anda sempre a queixar-se que a vida de uma psicoterapeuta no Pólo Norte é uma seca.
- Bah, tudo bem.

Foi assim que Turlin decidiu telefonar à Mãe Natal e marcar uma sessão de psicoterapia. Ao menos sempre se distraía, saía do atelier e deixava para trás o cheiro a bosta de rena, para aturar alguém menos chato que os parvos dos duendes do armazém, todo o dia a cantar Jingle Bells.

Tocou à porta da mansão de 3 pisos que o Pai Natal mandara construir com o dinheiro do patrocínio da Coca-Cola e esperou. Breves instantes depois a Natascha – a empregada Ucraniana do Pai Natal – abriu a porta e indicou-lhe a biblioteca.

A lenha crepitava na lareira e emprestava ao local uma luz amarelada e quente, bastante reconfortante. Turlin, ao invés de se sentar na chaise-longue de pele, decidiu dar uma vista de olhos pelos títulos dos livros na estante mais próxima. Estava precisamente a apreciar as fantásticas encadernações da colecção das obras completa do Marquês de Sade, quando entrou a Mãe Natal.

- Boa noite, Turlin.

Turlin respirou fundo antes de responder. A Mãe Natal era uma Finlandesa loira, com 1.85m, de olhos azuis como turquesas e com um corpo que justificava plenamente a razão do Pai Natal chegar sempre despenteado (e tarde) à fábrica.

- Boa noite, Mãe Natal. Como estás?
- Bem, obrigado, Turlin. Senta-te aqui ao pé de mim no sofá, não fiques aí tão longe nessa fria chaise-longue.
- Er... tá bem.
- Bom, sei que tens andado um pouco stressado. Queres contar-me o que sentes?
- Não é fácil, sinto-me cansado. Tenho 158 anos, estou a entrar na meia idade, sinto que estou a perder parte da minha vida. E depois, estes invernos longos aqui... pronto, confesso, desde os 120 anos que as minhas fantasias e carências sentimentais se têm tornado difíceis de suportar.
- Oh, meu querido. Eu percebo isso, sabes, a mim também me custa as 3 horas que o Pai Natal passa por dia na fábrica. Mas o que te fez mudar? Tu dantes, mesmo reinvindicativo, eras afável e sempre alegre. Agora andas... como direi?... resmungão, sabes?
- Eu sei, sinto isso. Mas passar o dia todo a apanhar com os rabetas dos duendes escoceses que vocês contrataram para o armazém, não é fácil. Sempre a cantar, com aqueles ridículos collants verdes justinhos. Sei lá, é tudo junto. Mas essencialmente acho que é aquela coisa da falta de sexo.
- Oh, não seja por isso, meu pequerrucho, senta aqui no meu colo.
- HÃ???
- Vá, o Pai Natal está no laboratório de brinquedos, só chega mais tarde.
- Mas, eu não sei...
- Vá vem cá, deita aqui a cara no meu peito.
- ....

Como esperavam todos, o inevitável sucedeu. O Pai Natal entrou em casa e decidiu ir dizer olá aos dois, pois sabia que ainda estariam na sessão de psicoterapia. Entra na biblioteca e depara-se com Turlin enroscado no peito da Mãe Natal. Surpreendido exclama:

- Mas o que raio estás a fazer, Turlin?
- Estamos na psicoterapia, querido – responde a Mãe Natal – apertando Turlin contra si.
- Ah bom, pensei que fosse mais uma das ideias parvas dele.

Thursday, November 29, 2007

O livro mais esperado

Estava eu hoje aqui no lóbi do Hotel Trópico a folhear uma revista ao pequeno almoço e de repente vejo esta preciosidade.



Caraças, será que depois disto vou conseguir comprar o mais recente livro, qd regressar a Lisboa?

Monday, November 26, 2007

My smile

Hoje acordei e tinha um sorriso.
Estava nos meus lábios e brilhava-me nos olhos.
Hoje, a confusão da cidade que não pára parece-me uma doce dança e o seu som forte, uma quente canção.

Quente como o sol que sorri – também ele – e que empresta este toque de luz brilhante à cidade, que se engalanou de cores alegres.

Tudo isto para mim e para o meu sorriso. Para me dizer que me compreende e sorri comigo.

Embora seja uma sensação estranha e difícil de ‘realizar’, acho que se chama felicidade. Tomara que não parta de novo.

Thursday, November 01, 2007

De vez?

Estou há muito tempo sem escrever. A todos os que me perguntam, vou tentando desculpar-me com o tempo ou o trabalho. Na verdade, não sendo isso mentira, há outras razões bem mais profundas para a ausência de escrita.

Desde que me separei, algures em 2004, entrei numa espécie de espiral depressiva, por vezes controlada e mesmo esquecida, mas outras vezes, de difícil fuga e verdadeiramente limitadora.

Angola acabou por se revelar – embora, honestamente, eu não o esperasse – uma forma de sair do turbilhão de emoções que teimavam em me manter infeliz.

Com o tempo, a rede de relações que criei em Angola tornou-se mais forte. A Ana, especialmente, mas para além dela e depois dela, muitas outras pessoas perceberam o quanto eu precisava delas e souberam estar lá, mesmo sem eu pedir.

Descobri que o ambiente humano é diferente, em África. Não só entre os expatriados, que partilham esta distância que nos torna mais próximos, mas também o calor e alegria do povo Angolano se tornou um bálsamo difícil de dispensar.

Descobri que aqui posso, de facto, ajudar outras pessoas; não só profissionalmente, mas também na vida, há aqui pessoas muito necessitadas e descobri que parte da minha felicidade passa por trazer felicidade aos outros. Sem os cinismos e competitividade fútil de Lisboa, em que mais um punhado de Euros parecem ser um fim que justifica qualquer meio.

Aos poucos, o sofrimento que sentia ao partir de Lisboa para Luanda, inverteu-se e hoje, custa-me tremendamente mais deixar a minha vida em Angola para regressar em Lisboa. Filha à parte, sinto-me cada vez menos ligado a Lisboa; não à cidade, que amo de paixão, mas à vida e sociedade.

A partir do momento que aceitei estes sentimentos, ficou evidente que, para ser feliz, tinha que fazer alguma coisa.

A decisão foi tudo menos fácil. Mas um grupo de pessoas excelentes e muitas horas de psicoterapia, acabaram por me deixar uma única via aceitável. Decidi assim esta semana, que pretendia que o meu futuro passasse por África.

Assumi que pretendo – com o actual ou outro empregador – trabalhar em África e procurar encontrar-me aqui. Não sei se por muitos anos, se por poucos. Já vivi demais para ainda acreditar que se podem ter essas certezas, mas sei que neste momento, é em Angola que quero estar.

Ter conhecido a Sylvie, ainda mais viajada que eu, fez-me perceber que não era um sentimento contra-natura, esta coisa de querer deixar a ‘civilização’ e sentirmo-nos felizes num outro sítio que maior parte dos nossos amigos considera inabitável.

Se calhar, precisava também destes novos amigos.

A todos os que me ajudaram neste percurso interior, o meu mais profundo obrigado. Vocês sabem quem são!

Monday, October 15, 2007

Algo que eu já devia ter aprendido

A solidão e sua porta

Quando mais nada resistir que valha
a pena de viver e a dor de amar
e quando nada mais interessar,
(nem o torpor do sono que se espalha).

Quando pelo desuso da navalha
a barba livremente caminhar
e até Deus em silêncio se afastar
deixando-te sozinho na batalha

a arquitectar na sombra a despedida
do mundo que te foi contraditório,
lembra-te que afinal te resta a vida

com tudo que é insolvente e provisório
e de que ainda tens uma saída:
entrar no acaso e amar o transitório.


Carlos Pena Filho


Os meus agradecimentos à Pacanina

Thursday, October 11, 2007

Há coisas que não mudam

Parece que não escrevo aqui há muito, e é verdade, tenho andado por África, mas na verdade, na verdade, ainda que quase tudo se mantenha igual, a minha vida está cheia de cor, senão vejamos:

Tenho noites em branco, sorrisos em amarelo, dias em púrpura, fins de semana em azul, sonhos em rosa e negro... e até tenho cabelos cinzentos.

Ufa, tantas cores.

Tuesday, July 17, 2007

when?



Porquê?
Porque persistem em existir grossas lágrimas me rolam pelo rosto?
Porque acordo sufocado mais vezes que as que me deixo a mim mesmo saber?

(…)Oh, Angie, Oh, Angie, when will those dark clouds disappear (…) *



Quando voltarei a sorrir? E quando serão reerguidas dos escombros, as paredes de mim?

(…)All the dreams we held so close seemed to all go up in smoke (…) *


Porque é a dor mais funda, aquela que é por ti, pela tua própria dor? Aquela que sinto quando me lembro que te dói como a mim?
Terás tu a resposta?

(…) Oh, Angie, don't you weep, all your kisses still taste sweet (…) *


Saberás tu quando vou poder respirar sem esta dor que me aperta? Quando poderei deixar de fingir que sou forte?

Desaparecerá um dia este fosso que não nos deixa aproximar?

(…) But angie, I still love you baby, ev'rywhere I look I see your eyes
There ain't a woman that comes close to you, come on baby, dry your eyes (…) *







* Angie, The Rolling Stones

Monday, July 16, 2007

Conto para maiores de 18

Sentados à mesa, enquanto decorria o que aparentava ser um normal almoço entre amigos, a conversa fluia fácil e absorvente. No entanto, quem olhasse mais atentamente poderia ver que os olhares deles se cruzavam com mais frequência que o normal e que exprimiam desejo e aquele brilho especial da paixão.

Os cabelos negros e compridos dela caíam sobre um rosto bronzeado e bonito. Ela era sem dúvida uma mulher muito atraente e ele não conseguia desviar o olhar dos límpidos lagos que eram os olhos dela. E tão pouco conseguia disfarçar a indesmentível atracção.

Ela sorria, claramente se apercebia do que diziam os olhos dele e a ideia agradava-lhe. Entendiam-se muito bem, ela fazia-o rir e ele transmitia-lhe uma calma doce que ela não sentia há muito. Aqueles almoços repetiam-se aliás em função disso, desse sentimento que crescia dentro dela e dentro dele.

Saíram do restaurante para a rua, onde um lindo dia de sol os esperava. Caminharam lado a lado durante alguns metros e por fim, ele abrandou o passo, segurou na mão dela fitou-a nos olhos. Ela retribuíu o olhar, doce e expectante

- E se em vez de ir trabalhar, entrarmos no carro e formos apanhar sol na barriga, numa esplanada junto ao mar?

Ela sorriu, apertou-lhe a mão com força e assentiu com um ligeiro aceno de cabeça.

Entraram no carro dele e partiram. Passaram a ponte deixando a grande cidade para trás e já na auto-estrada as suas mãos tocaram-se, primeiro por acaso, depois por desejo e apertaram-se com força. Ela sorriu e acariciou-lhe o braço. Um arrepio de felicidade e prazer percorreu o corpo dele.

Algures numa estrada no litoral a sul de Tróia, decidiram entrar por um caminho de terra e poucos kilómetros depois deparou-se-lhes um cenário fantasticamente belo. Um areal deserto em toda a sua extenção, um mar de azul límpido e o hipnotizante verde do pinhal... era um sítio encantador.

- Oh, aqui não tem explanada! – exclamou ela com beicinho claramente forçado.

Ele riu-se e chamou-lhe tonta. Saíram do carro e caminharam até ao cimo da duna. Deram as mãos, olharam um para outro e as suas bocas aproximaram-se. Primeiro os seus lábios mal se tocaram, num encontro tímido e fugaz, mas depois as suas bocas uniram-se num longo e apaixonado beijo. Beijaram-se longamente, com uma sofreguidão de quem esperou muito tempo por este momento. Ele conseguia sentir o coração dela a bater forte junto ao seu, o seu cheiro, o seu sabor e arrepiou-se de prazer.

Abraçaram-se e deixaram as suas mãos explorar livremente os corpos um do outro. Ele levantou docemente a camisola branca de algodão dela, enquanto lhe beijava o pescoço, até revelar o seu peito lindo. Sorriu-lhe e desceu, beijando-o, enquanto ela fechou os olhos de prazer. Ela desfez o nó da gravata dele e lentamente foi abrindo os botões da camisa, para por fim o deixar de tronco exposto, à mercê das suas carícias e beijos.

Ele pegou nela e levou-a até junto do carro. Enconstaram-se ao carro envolvidos num abraço meigo. Ele deixou as suas mãos deslizarem para dentro dos jeans dela e depois para dentro das suas cuecas e sentiu o seu sexo quente. Ela desapertou o cinto das calças dele, depois o botão e deixou-as cair. De seguida, desapertou o botão dos jeans e ficaram assim nus a olhar-se.

Ela começou por lhe beijar o peito, por lhe apertar as nádegas e o mordiscar levemente; depois ele agarrou-a, beijou-a e encostou-a ao carro e encostou o seu sexo duro ao dela e penetou-a. Fizeram amor ali mesmo e quando a respiração ofegante de ambos indiciou que estavam a chegar ao orgasmo, beijaram-se com sofreguidão e apertaram-se num abraço terno do qual desejaram nunca mais sair.

Quando finalmente se soltaram do abraço, riram ao constatar que as roupas estavam espalhadas pela areia e seria impossível voltarem ao escritório com ar decente naquele dia. Brincaram na areia, tentando esconder as roupas um do outro e acabaram no carro, com as roupas desalinhadas, a caminho de casa dela.

Saturday, July 14, 2007

O direito a não pensar

Se há um direito que eu gostava de ter, esse era o direito a não pensar. Não sei sequer se é uma questão de direito ou de capacidade.

Gostava de conseguir, com ou sem ajuda de alegria química, esquecer o que me dói, o que me magoa e viver a vida livre das amarras que não me deixam ser feliz.

Sinto que as partes e pessoas da minha vida que não têm culpa, não deveriam ter que conviver com um 'eu' infeliz. Gostava que o sorriso que vêm pudesse ser sentido. Que a felicidade que percebem, fosse mais que um avatar que me permite esconder.

Mas não consigo. E lamento-o a cada dia, a cada hora.

Thursday, May 31, 2007

Desabafo

Sempre que ouço aquelas três meninas da TV Cabo a tocar: TRRIMM-TRRIMM, TRRIMM-TRRIMM, só me apetece pegar nelas e.... mudar-lhes o toque!

Friday, May 04, 2007

Gosto



Às vezes fecho os olhos e quase posso jurar que consigo sentir o teu cheiro e o toque da tua pele.

Não estás lá, eu sei, mas queria muito que estivesses.

Gosto do teu sorriso e do conforto aconchegante que ele me provoca. Da sensação pacificadora de um quente regresso a casa, especialmente importante nesta altura não me sinto em casa em lugar nenhum.

Gosto de saber que estás aí e que basta o teu olhar para que nada mais importe. Gosto do sabor do teu cabelo e do sal da tua pele, quente, quando fazemos amor.

Longe ou perto, gosto muito de ti.



Imagem daqui