Thursday, August 31, 2006

My dreams in blurred colors

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I remember waking up tonight to find it was all red and yellow. And yet, there you were, dancing, blending with the colors and calling out my name.

I remember you reaching for my hand and asking me to dance. Yes, I remember it and it was all red and yellow. Your red lips and yellow words told me you loved me.

I remember my red voice saying I love you too and your yellow eyes smiled back at me.

I can’t remember if I was sleeping or awake. I just remember you in red and yellow colors, walking into my red and yellow dream, blending with the colors and calling out my name.

Teoria conspirativa em baseada em boatos reais

Na ultima sexta feira, enquanto fazia as minhas primeiras compras num supermercado conhecido, numa zona conservadora da cidade, algo chamou a minha atenção.

Seguia pelo corredor das massas e arroz e procurava decifrar as diferenças entre o arroz carolino, o basmati e o selvagem, quando uma anormal agitação dois corredores abaixo me fez espreitar sobre as embalagens de ‘tortelini’ na tentativa de me inteirar do que se passava.

Um grupo de senhores, já claramente para lá da barreira da meia idade, cochichava junto da prateleira dos esfregões scotch-brite salva-unhas. A princípio pensei que se interrogavam sobre a utilidade daquelas pequenas esponjas, mas acabei por perceber que assim não era.

O que imediatamente me chamou a atenção, foi que todos eles vestiam sobretudos azuis – o chamado sobretudo à Freitas do Amaral - à excepção de um mais alto e calvo, que tinha um sobretudo idêntico mas castanho. Seria claramente o neo-liberal do grupo.

Soltavam risadas largas e sonoras, intercaladas com momentos do que parecia ser um cochicho em que algum deles dizia algo.

Segui sem valorizar em demasia este acontecimento e enquanto tentava fazer slalom por entre carros de compras abandonados no meio dos corredores, por velhinhas com penteados cheios de laca que liam com dificuldade as letrinhas pequenas nas costas de embalagens de cosméticos, fui mesmo esquecendo aquele evento e re-entrei na minha lista mental de compras.

Percorri o corredor dos congelados retirando diversas refeições pré-feitas, com que surpreenderei os meus convidados – se e quando os houver, daí a necessidade de serem congeladas – quando acabei por me deter junto aos iogurtes. Espreitava com genuíno interesse as diversas marcas que ofereciam cremosos açucarados, averiguando preços, condições de rappel e descontos financeiros e finalmente encontrei o que pretendia. Quatro pelo preço de três. Ao retirar da prateleira, de novo as sonoras gargalhadas, mas desta vez ali mesmo nas minhas costas, quase me fizeram derrubar uma pilha de Suissinhos (faltou um bocadinho assim).

Sem me dar conta tinha-me aproximado dos sujeitos dos sobretudos (à Freitas do Amaral) e presenciava agora in loco o mais ruidoso conjunto de gargalhadas combinadas com tosse e catarro da história das Avenidas Novas.

Primeiro tentei deitar-lhes um olhar indignado pelo susto que acabavam de me provocar, mas, como não conseguisse penetrar a barreira formada pelos sobretudos (à Freitas do Amaral), acabei por tentar escutar o que diziam.

- Mas tens a certeza disso? - sussurrava um deles.
- Claro que tenho, pensa lá tu bem – respondeu o mails alto com sobretudo (à freitas do Amaral) castanho – tu já os viste aos dois no mesmo sítio, ao mesmo tempo?
- Eh pah... de facto não.
- Pois claro, estou-te a dizer, o Clooney e o Sócrates são uma e a mesma pessoa. Daí aquela coisa dos debates, ele não pode porque rapou o cabelo para mais uma daquelas séries do CACTUS, ou SAP...
- ER, serviços de urgência?
- Isso, isso!

Não queria acreditar nos meus ouvidos. Por tonto que pudesse parecer, fazia sentido. Agarrei numa embalagem de BioDanone soja com frutos silvestres light sem açúcar, corpos fitness, e fingi ler com interesse a composição, para me aproximar mais e perceber o que diziam, agora que o tom de voz estava mais baixo.

O calvo com sobretudo (à Freitas do Amaral) castanho dizia baixinho

- E sabem aquela coisa do Prof. Marcelo já ficou mesmo esclarecida.
- Ficou?
- Sim, o meu cunhado que trabalha no SIS é que me contou, que aparentemente os americanos do MIB tinham mandado um fax com fotos de diversos extraterrestres inofensivos que teriam vindo para cá, na tentativa de arranjar emprego neste governo, sabem, por causa daquilo de o Santana ser apenas um fantoche da CIA.
- Sim, isso sabia – respondeu um mais baixo e gordo.
- Bom, sucede que o Paes do Amaral, que segundo o meu vizinho de cima, foi do KGB ao tempo da guerra-fria, ameaçou expôr o Marcelo. Ele disse-lhe logo, Marcelo, pensava que tu eras só lunático, afinal és Marciano, cum caraças, vou contar à Moura Guedes, vamos facturar milhões com a publicidade no intervalo das notícias quando expusermos a tua família e mostrarmos fotos da tua infância no planeta vermelho.
- Eiiiiiina méne!!!

Um enorme bruá, mais umas tossidelas e creio que terei perdido mais um pouco da conversa, mas apanhei ainda mais umas frases que não consigo esquecer.

Dizia desta vez o mais novo, magro e de bigode:

- Vocês já sabem esta coisa do Mantorras tanto tempo afastado do público, não sabem?
- Eh pah, de facto é estranho.
- Pois, é que... e isto é segredo, não pode sair daqui, sucede que os americanos, quando o Savimbi morreu, fizeram uma operação secreta, retiraram-lhe o cérebro e mantiveram num aquário, vivo, até decidir o que fazer.
- A sério?
- Sim, claro. Era demasiado importante para desaparecer, mas tinham medo que os russos o apanhassem. Então, quando o Mantorras se lesionou, substituiram-lhe o cérebro pelo do Savimbi e assim ninguém desconfia. Nem os russos, até pq ele anda sempre de vermelho e tudo.

Esta foi a altura em que não aguentei mais revelações e saí a correr (tendo mesmo que voltar mais tarde para recuperar as compras) para ir beber uma água com gás.

Wednesday, August 30, 2006

Old Flanagan Was a Lucky Bastard



O Velho Flanagan – assim era conhecido pelos habitantes de Shiresland- era uma pessoa discreta, que raramente sobressaia do nevoeiro que era a vida social da comunidade.

Descendente dos Flanagan das Highlands, ele vivia no castelo Donamb, junto ao lago com o mesmo nome e dedicava-se essencialmente à criação de gado nos seus campos bem como ao pequeno negócio de Bed & Breakfast que decidira criar usando a ala leste do grande castelo.

Ou pelo menos assim pensavam as pessoas de Shiresland até aquele dia.

Mas voltemos atrás na história. Shiresland era uma pacata comunidade junto das margens do lago Donamb e, como muitas outras localidades da Escócia, reclamava para o seu lago a existência de um monstro pré-histórico de dimensões e apetite grotescos. Esta ideia alimentava dezenas de lendas e relatos, mais ou menos inverosímeis, sobre a presença de tal criatura. E era nessas lendas que se alimentava muito do comércio local, já que eram elas que mantinham o fluxo de turistas.

De todas as formas, a característica mais peculiar de Shiresland era a competição tácita existente entre todos os habitantes, para ver quem conseguia ser o primeiro a apresentar provas irrefutáveis da existência da criatura. Sempre que alguém apresentava o que dizia ser uma nova prova, havia grande comoção no povoado e, pelo menos até ser desmontada a prova, o seu autor era a pessoa socialmente mais in da vila.

As dimensões do fenómeno ultrapassavam muitas vezes o que seria razoável.

Talvez por sempre ser realtivamente alheio a este fenómeno, o velho Flanagan era tão discreto. Apesar da sua morada previlegiada mesmo encostado às magens do lago, raras vezes os habitantes de Shiresland se lembram de o ter visto nas assembleias mensais de discussão das novas provas e muito menos participar nas acaloradas discussões pós-assembleia, no Pub Lake Serpent.

No entanto, na manhã daquele dia de Março, ainda o sol não tinha penetrado a espessa cobertura de Nevoeiro sobre o lago e a vila, quando uma enorme explosão fez estremecer todas as casas de Shiresland. Em poucos minutos, diversos habitantes – muitos ainda em roupa de dormir – se começaram a juntar no largo frente à casa de Duncan McLeoud, o homem mais velho da vila, do qual ninguém sabia a idade. McLeoud era também o homem mais bem informado e tinha lugar cativo no balcão do Lake Serpent.

Naquele dia porém, nem Duncan McLeoud sabia o que se passava.

No momento da segunda explosão, já praticamente toa a vila estava no largo. Desta vez houve logo quem gritasse: Vem do castelo do velho Flanagan, vamos para lá!
E assim foi. Um grupo de homens partiu imediatamente em direccção às margens do lago Donamb, a passo apressado, para averiguar do que se tratava. À chegada, um cenário assustador os esperava; boa parte da ala Leste do castelo estava transformada num monte de escombros fumegantes. Depois, à direita do castelo, onde andes havia um enorme rochedo, havia agora uma grande cratera. Junto a esta, algumas máquinas de aspecto estranho, fazendo lembrar vagamente enormes brocas perfuradoras e outro equipamento de escavação. Do seu interior pareciam vir gritos e rugidos.

Aproximou-se o grupo e o que viu emudeceu todos. Um enorme pescoço de um animal semelhante a uma serpente, erguia-se uns bons 5 metros acima da água no fundo da cratera e agitava-se em gritos de gelar o sangue. Encurralados a um canto, o velho Flanagan e o seu mordomo gritavam e tentavam afugentar a besta a tiros de zagalote.

O velho Flanagan havia descoberto a prova das provas: o monstro ele próprio.

Gelados pelo que viam, os homens da vila assistiram impotentes enquanto a cabeça monstruosa se abateu sobre os dois homens e os levantou no ar, antes de os engolir. Logo a seguir, desapareceu no escuro lago.

Quando, minutos depois conseguiram recuperar a fala, ninguém se esquece das palavras do velho McLeoud:

- That Old Flanagan… what a Lucky Bastard!! He found the beast!

Tuesday, August 29, 2006

Para Sempre

Subimos o último lanço de escadas juntos, a correr. Chegamos lá acima, seguro-lhe a porta e puxo-a os últimos degraus.

Primeiro segura-se a mim, surpreendida com o vento forte, depois debruça-se na parede e grita de espanto:

- É lindo!! Nunca pensei que a vista daqui fosse tão bonita.
- Sim, é completamente insuspeito. É o meu canto secreto. Serve para ver o mundo a correr de um lado para o outro, lá em baixo.
- É tão alto...
- São 18 andares.
- Sabes o que eu gostava?
- Não. O quê?
- Gostava de fazer amor contigo aqui em cima.

Olho-a nos olhos, sorrio primeiro, depois aproximo o meu rosto do seu e beijo-a. Beijamo-nos. Primeiro ao de leve, depois sofregamente, como se nos mordêssemos.

Sem descolar as bocas, ela despe-me a t-shirt e acaricia-me... eu luto com os botões da sua camisa e acabo por os vencer. Beijo o seu peito, o seu pescoço, agarro-a com força, levanto-a e sento-a num dos longos bancos que decoram o terraço. Deito-a, desaperto os botões das suas calças e puxo-as lentamente.

Agarrados, fazemos amor, com o som da cidade em fundo, como um coração que bate marcando o ritmo de um ser que não pára nem abranda... tal como nós, já cobertos de suor, mas ainda não saciados.

Muito tempo depois, ainda lado a lado a olhar o céu, partilhamos a visita da Lua, e a despedida do sol. Observamos nos olhos um do outro os refexos cintilantes e coloridos dos néons da cidade. Afago o seu cabelo, olho-a nos olhos e pergunto:

- Vais ser minha para sempre?
- Vou, enquanto formos um do outro serei tua para sempre.
- E... e depois disso.
-Depois disso seremos para sempre de outras pessoas... não interessa. Interessa apenas o agora. E neste momento sou tua para sempre.

Monday, August 28, 2006

O Sono




John acordou cedo. Muito mais cedo que o que gostaria. Ergueu-se, protegendo a vista das tiras de luz intensa que entravam pelos intervalos dos estores.

Aquela dor de cabeça era insuportável. Ergueu o tronco, pôs os pés no chão e manteve-se assim, sentado com a cabeça apoiada nas mãos, durante uns segundos. Respirou fundo e levantou-se. Caminhou até à casa de banho e confirmou no espelho que as dores que sentia, se viam por fora. Tinha profundos golpes no rosto e um hematoma feio no queixo.

Lavou a cara com água fria e olhou-se de novo no espelho enquanto fazia um esgar de dor ao tocar num dos cortes. Despiu-se, atirou a roupa para o chão e entrou na banheira.

Cerca de 45 minutos depois estava no carro a caminho daquele encontro. Às 13.25, com apenas 25 minutos de atraso, entrou no restaurante. Viu a Cristina imediatamente, sentada numa mesa na esplanada. Caminhou até ela e sentou-se.

- Desculpa, não consegui acordar a horas.
- Que te aconteceu? Meu Deus, que te aconteceu?
- Não é nada Cristina, a sério.
- Nada?! Estás todo cortado e com hematomas!
- Não foi nada!
- Estás a brincar comigo, não estás, John? ... Foste ao menos ao médico.
- Não vale a pena, isto não é nada.
- Meu Deus e que cara tu tens. Tens dormido?
- Dormi hoje um bocadinho.
- Só hoje?

John desviou o rosto de Cristina e por uns instantes olhou o rio e a vida a correr na cidade. Apenas por uns segundos esteve longe dali. Depois ergueu de novo os olhos e encarou Cristina.

- Que queres que te diga. Não posso dormir.
- Como não podes dormir? Que se passa John? Há quanto tempo não dormes? E o que te aconteceu ao rosto?
- Calma, tantas perguntas, - disse John forçando um sorriso - Podemos pedir primeiro? Não comi nada ainda.
- Ok.

Durante uns minutos ficaram em silêncio, mais envoltos num turbilhão de pensamentos que propriamente a ler a lista. Cristina, intrigada e preocupada com John e ele, pensando se contar ou evitar as perguntas.
Acabaram por pedir o prato do dia. Enquanto o empregado enchia o copo de John, Cristina fixou o seu olhar.

- Então John, vais contar-me o que se passa? Com calma e desde o início?
- Não se passa nada...
- Não John, não comeces com isso – interrompeu Cristina – passa-se qualquer coisa e aparenta ser grave.
- Cristina.... eu... eu não posso dormir. Não sei como te explicar isto.
- Mas não podes dormir como? Tens alguma coisa para fazer? Trabalhas à noite, é isso? E essas mazelas têm a ver com o que fazes, é?
- Não Cristina, não é assim tão simples... Tenho medo de dormir.
- Desculpa?
- Tenho um sonho, ou melhor, um pesadelo, que se repete sempre que fecho os olhos. É impossível escapar-lhe. E... e geralmente acordo magoado do pesadelo.
- Oh John, mas ...
- Espera, não é tudo. Hoje dormi, estava há 5 noites sem dormir e não aguentei. O resultado podes ver no meu rosto.

Cristina fitou os olhos de John por uns momentos, incrédula. Passou-lhe pela cabeça que ele estivesse louco, que não estivesse em si. No entanto, as olheiras, o ar cansado e aquelas marcas no rosto...

- Não estou louco, Cristina, embora vá ficar muito brevemente se não resolver isto.
- Mas, que sonho é esse?
- São os meus monstros todos, Cristina, esperam por mim quando me deito.

Friday, August 25, 2006

Urgências Filosóficas

- Dr Duchamp, Dr Duchamp!! por favor venha já comigo, acabou de entrar um caso grave de Naturalismo.
- Eh lá... isso é melhor ser o Dr Caravaggio a ver, não?
- Não Dr, a sério, ele está ali na enfermaria a pintar um quadro horrível com a bancada dos instrumentos cirurgicos. È mesmo necessária uma intervenção rápida com aplicação de Dadaísmo.
-Pronto, vamos lá ver isso.

Dr Duchamp estava a ter um dia complicado no Banco de Urgências Filosóficas. A sala de espera cheia, o telefone que não parava de tocar e até o chato do Chefe do serviço de Anestesistas, o existencialista Dr Meike Slip, hoje andava particularmente irritante.

- Oh senhora enfermeira, por favor calem-me aquele tipo na maca 6, não se cansa de gritar.... “fora os neo-platónicos, viva os relativistas, fora os neo-platónicos, viva os relativistas”, ...por amor de Deus ou lá de quem mandar nisto, calem o homem!!
- Doutor, estou farta de tentar, mas não há quem o convença a calar-se.
- Oh mulher, ligue lá para cima, para a Unidade de Gregos Clássicos, veja se eles mandam um Sofista, o Dr Gorgia ou outro, pode ser que o convençam a calar-se.
- É para já, doutor.

De facto, as coisas não estavam a correr bem. Desde a eleição do Cardeal Ratzinger como Papa, que as urgências filosóficas não registavam uma enchente desta dimensão. Dr Duchamp dirigiu-se à máquina do café, bebeu um arábica puro e por fim lá foi atender a urgência Naturalística

- Então meu amigo, conte lá como é que foi isto.
- Eu estou bem, a sério que estou.
- Sim, claro, então como justifica este quadro com a maçã do meu almoço, que acabou de pintar?
- er...
- Você sabe o que eu costumo dizer?
- Não...
- Costumo dizer que há que negar todas as tradições sociais e artísticas. Baseio sempre a minha vida num anarquismo niilista e o slogan de Bakunin: "a destruição também é criação" é o meu modo de vida.
- Sim, e então?
- E então estou disposto a partir-lhe a moldura na cabeça a ver se consigo uma bela imagem desconstrutiva.
- Er... sabe, até me estou a sentir melhor, sôtor, sinto de repente um frémito cubista a subir-me pela espinha... melhor, melhor, estou a ver uma pintura a formar-se na minha mente... vejo uma mulher com 3 olhos a fritar um relógio derretido.
- Ora assim é que é falar!! Pode ir-se embora, vou já dar-lhe alta.

- Oh Dr Duchamp, você é brilhante – diz a enfermeira
- Eu sei, querida, eu sei. É do fósforo que como à noite!