Thursday, November 12, 2009

Diário de uma Gripe A

História em primeira mão de uma semana de quarentena a dois


Dia 0 – Sábado
PREOCUPAÇÃO


Depois de jantar em casa de uns amigos a Patrícia chegou a casa meio murchinha e quando a fui deitar pareceu-me quente. Medi a temperatura e tinha 37,5º . Nada de grave, pensei. Dei-lhe 10ml de ben-u-ron e fiquei descansado.

Dia 1- Domingo
MEDO

Acordámos bem dispostos. Medi a temperatura da Pat e estava tudo em ordem. Fomos tomar o pequeno almoço à rua e levar roupa à engomadoria.

A dado ponto apercebo-me que a Pat está a ficar com tosse seca. Cada vez mais até ao ponto de ser quase constante. Sinto-a de novo quente. 38,8º afinal temos qualquer coisa. Mais anti-piréticos e ficamos fechados em casa. Embora ainda nem eu nem ela soubéssemos, começava a nossa semana de quarentena em casa.

Por esta altura decido que a mãe devia saber; ligo-lhe e partilho os meus receios. A febre desce pouco com os anti-piréticos, ela tosse mas ainda n vomitou e nem se queixa de dores. Nenhum dos dois o disse, mas H1N1 estava nas nossas mentes.

Até q ao fim da tarde, a Pat vomita a primeira vez e começa a queixar-se de dores de garganta motivadas pela tosse.

Falo com a mãe que fala com a pediatra. Foi o início de várias consultas telefónicas. A pediatra pergunta se o nariz corre. Não, nada se passa aí.
– Nesse caso - diz – os sintomas estão muito próximos de H1N1, fiquem em casa, anti-piréticos de 4 em 4 horas e vamos acompanhando isso.
Por esta altura, finalmente percebo que não devo ir trabalhar na segunda.

Dia 2 - Segunda- feira
PÂNICO

A noite foi péssima. Nem eu nem ela dormimos nada. Não só ardia em febre (sempre por volta dos 39º) como tossia e se queixava das dores que tossir lhe causava.

Pela manhã constato de novo que, aconteça o que acontecer, no máximo às 8 da manhã a Pat salta da cama. Mas estava murchinha, com os olhos encovados. Desde domingo à noite que recusa a comida e só a ‘engano’ com bolachinhas e chá preto super adoçado.

Pela falta de melhoras e mesmo agravamento, a mãe recorre de novo à pediatra. De novo nos indica estar com grande dose de certeza perante a H1N1, mas recomenda que não saíamos de casa (sobretudo, que não vamos ao consultório), excepto se quisermos ir fazr a análise, mas que para ela era indiferente nesta fase. Recomenda um xarope para aliviar a tosse que continua e continuar como até aqui.

Por esta altura começo a achar q ela não nos quer é lá no consultório. Mas tendo em conta que a Pat pode ser fonte de contágio, nem sequer me choca (muito).

É então que abro o frigorífico e constato que as provisões que um gajo que vive sozinho tem em casa, podem durar muito qd na melhor das hipóteses jantamos em casa, mas são ridiculamente insuficientes para 2 pessoas em casa full time. Do mesmo modo, os antipiréticos que tinha comprado há 6 meses e estavam quase cheios, estão a chegar ao fim.

Aceito a oferta da ex de nos trazer medicamentos e mantimentos.

À noite, para além de mais uns vómitos da Pat, eu começo a ter dores no corpo, respondendo assim à minha própria questão de quanto tempo eu me aguentaria sem contágio.

Dia 3 - Terça-feira
AFINAL ISTO PASSA

Esta noite foi menos má. Pelo menos para a Pat. Começou a descer a temperatura e a tosse reduziu imenso.

Já eu, para além de imensas dores no corpo e cabeça, estava com uma terrivelmente irritante tosse seca, que antes do fim da manhã já me causava dores na garganta.
Mas as boas notícias são que a Pat tem muito menos tosse e a febre desceu gradualmente ao longo do dia. À noite estava sem febre e já tinha outro ar, ainda que continuasse sem comer nada de jeito.

Ao longo do dia tornou-se também evidente que eu iria ter que recorrer aos mesmos medicamentos que ela; a técnica de fingir que não estava doente n estava a resultar.

Dia4 – Quarta-feira
O SEU DIPLOMA POR FAVOR

Em média esta manhã acordámos os dois assim assim. Na prática, a Pat acordou bem, sem febre ou dores e eu acordei mal. Bastante pior que ontem. Febre, dores mais intensas no corpo todo, com especial incidência na cabeça e espirros.

Se por um lado ter a Pat bem descansou toda a gente, por outro lado a experiência de estar fechado em casa a cuidar de uma criança quando mal nos conseguimos mexer, não é das mais fáceis.

Mas o dia de hoje teve experiências divertidas. Hoje começou a passar a notícia de que o RC está em casa com Gripe A. Isto suscitou alguns telefonemas e várias conversas no MSN. Acabei por constatar uma coisa. Toda a gente se recusa a acreditar que possas ter Gripe A a não ser que tenhas a análise positiva na mão. É como se fosse mais importante que o certificado de habilitações.

Um gajo concorre a um emprego de Economista, Gestor, Engenheiro Civil e ninguém quer saber do teu certificado de habilitações. Acreditam. Mas c a Gripe A, não, nada disso, meu menino. Tens o quê, Gripe A? Mas tens as análieses? Ah... então não é!

Se fosse uma coisa importante eu tinha ficado deprimido, juro. Assim, o que mais me aborreceu foram os arrepios de frio, a febre alta e as dores de corpo.

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