- Dr Duchamp, Dr Duchamp!! por favor venha já comigo, acabou de entrar um caso grave de Naturalismo.
- Eh lá... isso é melhor ser o Dr Caravaggio a ver, não?
- Não Dr, a sério, ele está ali na enfermaria a pintar um quadro horrível com a bancada dos instrumentos cirurgicos. È mesmo necessária uma intervenção rápida com aplicação de Dadaísmo.
-Pronto, vamos lá ver isso.
Dr Duchamp estava a ter um dia complicado no Banco de Urgências Filosóficas. A sala de espera cheia, o telefone que não parava de tocar e até o chato do Chefe do serviço de Anestesistas, o existencialista Dr Meike Slip, hoje andava particularmente irritante.
- Oh senhora enfermeira, por favor calem-me aquele tipo na maca 6, não se cansa de gritar.... “fora os neo-platónicos, viva os relativistas, fora os neo-platónicos, viva os relativistas”, ...por amor de Deus ou lá de quem mandar nisto, calem o homem!!
- Doutor, estou farta de tentar, mas não há quem o convença a calar-se.
- Oh mulher, ligue lá para cima, para a Unidade de Gregos Clássicos, veja se eles mandam um Sofista, o Dr Gorgia ou outro, pode ser que o convençam a calar-se.
- É para já, doutor.
De facto, as coisas não estavam a correr bem. Desde a eleição do Cardeal Ratzinger como Papa, que as urgências filosóficas não registavam uma enchente desta dimensão. Dr Duchamp dirigiu-se à máquina do café, bebeu um arábica puro e por fim lá foi atender a urgência Naturalística
- Então meu amigo, conte lá como é que foi isto.
- Eu estou bem, a sério que estou.
- Sim, claro, então como justifica este quadro com a maçã do meu almoço, que acabou de pintar?
- er...
- Você sabe o que eu costumo dizer?
- Não...
- Costumo dizer que há que negar todas as tradições sociais e artísticas. Baseio sempre a minha vida num anarquismo niilista e o slogan de Bakunin: "a destruição também é criação" é o meu modo de vida.
- Sim, e então?
- E então estou disposto a partir-lhe a moldura na cabeça a ver se consigo uma bela imagem desconstrutiva.
- Er... sabe, até me estou a sentir melhor, sôtor, sinto de repente um frémito cubista a subir-me pela espinha... melhor, melhor, estou a ver uma pintura a formar-se na minha mente... vejo uma mulher com 3 olhos a fritar um relógio derretido.
- Ora assim é que é falar!! Pode ir-se embora, vou já dar-lhe alta.
- Oh Dr Duchamp, você é brilhante – diz a enfermeira
- Eu sei, querida, eu sei. É do fósforo que tomo à noite!
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