Estou há muito tempo sem escrever. A todos os que me perguntam, vou tentando desculpar-me com o tempo ou o trabalho. Na verdade, não sendo isso mentira, há outras razões bem mais profundas para a ausência de escrita.
Desde que me separei, algures em 2004, entrei numa espécie de espiral depressiva, por vezes controlada e mesmo esquecida, mas outras vezes, de difícil fuga e verdadeiramente limitadora.
Angola acabou por se revelar – embora, honestamente, eu não o esperasse – uma forma de sair do turbilhão de emoções que teimavam em me manter infeliz.
Com o tempo, a rede de relações que criei em Angola tornou-se mais forte. A Ana, especialmente, mas para além dela e depois dela, muitas outras pessoas perceberam o quanto eu precisava delas e souberam estar lá, mesmo sem eu pedir.
Descobri que o ambiente humano é diferente, em África. Não só entre os expatriados, que partilham esta distância que nos torna mais próximos, mas também o calor e alegria do povo Angolano se tornou um bálsamo difícil de dispensar.
Descobri que aqui posso, de facto, ajudar outras pessoas; não só profissionalmente, mas também na vida, há aqui pessoas muito necessitadas e descobri que parte da minha felicidade passa por trazer felicidade aos outros. Sem os cinismos e competitividade fútil de Lisboa, em que mais um punhado de Euros parecem ser um fim que justifica qualquer meio.
Aos poucos, o sofrimento que sentia ao partir de Lisboa para Luanda, inverteu-se e hoje, custa-me tremendamente mais deixar a minha vida em Angola para regressar em Lisboa. Filha à parte, sinto-me cada vez menos ligado a Lisboa; não à cidade, que amo de paixão, mas à vida e sociedade.
A partir do momento que aceitei estes sentimentos, ficou evidente que, para ser feliz, tinha que fazer alguma coisa.
A decisão foi tudo menos fácil. Mas um grupo de pessoas excelentes e muitas horas de psicoterapia, acabaram por me deixar uma única via aceitável. Decidi assim esta semana, que pretendia que o meu futuro passasse por África.
Assumi que pretendo – com o actual ou outro empregador – trabalhar em África e procurar encontrar-me aqui. Não sei se por muitos anos, se por poucos. Já vivi demais para ainda acreditar que se podem ter essas certezas, mas sei que neste momento, é em Angola que quero estar.
Ter conhecido a Sylvie, ainda mais viajada que eu, fez-me perceber que não era um sentimento contra-natura, esta coisa de querer deixar a ‘civilização’ e sentirmo-nos felizes num outro sítio que maior parte dos nossos amigos considera inabitável.
Se calhar, precisava também destes novos amigos.
A todos os que me ajudaram neste percurso interior, o meu mais profundo obrigado. Vocês sabem quem são!
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3 comments:
Tu és lindo!!!
E nós adoramos ter-te cá!
Mesmo!... E mesmo quando tudo for dificil, quando surgirem os espinhos no mar de rosas, nós vamos estar ao teu lado... Eu vou!... E tu sabes.
Um beijo grande, já com saudades...
...fiquei sem palavras...
Com o perdão da má palavra... Kéestamerda??????
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