Em 1867 Karl Marx escreveu:
"Os donos do capital vão estimular a classe trabalhadora a comprar bens caros, casas e tecnologia, fazendo-os dever cada vez mais, até que se torne insuportável. O débito não pago levará os bancos à falência, que terão que ser nacionalizados pelo Estado"
Karl Marx, in Das Kapital, 1867
Durante a maior parte dos 142 anos desde que foi escrita, esta frase foi considerada apenas estranha e absurda mas hoje pode , efectivamente, ser considerada uma antecipação da realidade.
Entusiasmado por esta constatação, decidi investigar na minha biblioteca pessoal e devo confessar que descobri outras frases também claramente sub-valorizadas desde o tempo em que, sabiamente, foram escritas. Para vossa conveniência traduzi para Português, para que não percam pitada da capacidade de projecção dos autores.
Começo pela preocupação já demonstarada em 1966 relativamente à corrupção e abusos de poder, numa altura em que todos viviam o Flower Power e Alcochete ainda nem existia; atentem neste texto:
“A Cosa Nostra está estruturada como qualquer governos ou qualquer grande empresa (...). No topo está o capo di titti capi, ou seja, o chefão de todos os chefões. As reuniões são em sua casa e ele é o responsável pelo fornecimento de carnes frias e dos cubos de gelo. Uma falha neste domínio significa a morte imediata (a morte, por acaso, é uma das piores coisas que pode acontecer a um membro da Cosa Nostra e muitos preferem simplesmente pagar uma multa).”
Woody Allen, Getting Even - 1966
Mas já antes, outro conhecido autor havia referido o lado negro do dinheiro e a sua má influência na conduta humana:
“Destruímo-los de muitas maneiras. Primeiro economicamente. Ganham dinheiro. É apenas por acaso que um escritor ganha dinheiro, embora os bons livros sempre venham um dia a dar dinheiro. Então os nossos escritores, quando ganham dinheiro, elevam o seu nível de vida e estão tramados. Têm que escrever para sustentar a casa, a mulher e o resto e escrevem porcarias”
Ernest Hemingway, Green Hills of Africa, 1935
De um discernimento cortante é a visão que, já em 1956, Boris Vian tinha da voda moderna:
“Tiveram que se ir embora, jantar. Quando se trabalha no dia seguinte, não se pode passar toda a noite fora”
Boris Vian- L'Automme à Pekin - 1956
Para o fim deixo o mais surpreendente exercício de civismo e moral. Há mais de 200 anos, Sade, preocupado com a gravidez não desejada e a transmissão de DST’s – algo que não foi nada bem interpretado no seu tempo e lhe valeu a cadeia – ousou escrever:
“(...) aquilo que se sente quando este membro se introduz nos nossos cus é incontestavelmente preferível a todos os prazeres que possam resultar dessa introdução pela frente. Além do mais, quantos perigos não são evitados à mulher? A sua saúde corre menos riscos e não existe a menor possibilidade de gravidez.”
Marquis de Sade, 1795, La philosophie dans le Boudoir
Meus amigos, se isto não é visão do futuro, não sei o que será!
Friday, February 20, 2009
Wednesday, February 11, 2009
Notícias de 2009
Desde o fim de ano que não pegava num teclado para escrever (hesitei e voltei atrás confesso; tinha escrito «pegava numa caneta» e depois percebi que isso actualmente é uma força de expressão e não uma realidade. Fiquei triste e pensei: ‘vou escrever um parêntesis maior que a frase, a explicar que as forças de expressão me oprimem e não gosto delas’, e assim foi).
Dito isto, começo mais ou menos onde vos deixei. Promessas de ano novo. Ao contrário de toda a gente que conheço, eu tenho cumprido escrupulosamente as minhas. Más línguas dizem mesmo que denotam um certo prazer sádico no seu cumprimento. A essas más linguas eu respondo: Fuck off! Tivessem escolhido melhor as vossas!
Mas compreendem certamente que o meu afastamento da escrita não se deve ao acaso ou à preguiça, mas antes a um conjunto de temas que têm afectado o início do nono ano do milénio (eu sei que é o oitavo, mas soa melhor e faz ‘pandan’ com 2009). Temas emotivos e empolgantes como o Caso Freeport, o desfecho do Caso Casa Pia, o desemprego - que afecta em especial os emigrantes brasileiros que treinam o Chelsea - a crise financeira internacional e, provavelmente motivado por esta última, o encerramento do quiosque no Jardim das Amoreiras.
No entanto, tão pouco foi qualquer um destes temas que me fez de novo escrever. Fui inapelavelmente impelido para o teclado pelo sugestivo título das notícias de hoje, de que os Bispos nacionais apelam a que se vote contra quem defende o casamento homossexual.
Gosto sempre de pessoas que apelam ao voto! Todos sabemos o problema que representa a elevada abstenção. O alheamento e desresponsabilização que isso representa e que não traz nada de bom. Mas poucos - muito poucos – têm a coragem de dizer assim alto e ainda tão longe das eleições, que é preciso ir votar. Um grande bem haja, senhores bispos. Mas vão ainda mais longe! A Igreja está genuinamente preocupada com os problemas financeiros com que nos deparamos. Preocupada em iniciativas que mitiguem o sofrimento das famílias e os ajudem a superar a crise.
Depois dos apelos à poupança nos preservativos, do incentivo ao recurso a clínicas de aborto clandestinas q - por operarem sem uma estrutura de custos fixos - podem levar mais barato, do exemplo que frequentemente dão em como sai menos dispendioso aliciar rapazinhos novos da Igreja do que pagar a profissionais da prática do amor, agora sugerem que não se desperdice dinheiro em festas sem sentido como o casamento, essa palermice que une duas pessoas pelo amor e isso. Eu só posso concordar. Nada como gente habituada a trabalhar para ter ordenado, a suar para poder pagar os anéis, para nos ajudar a superar o que realmente nos atrapalha a vida.
Certo que este não é um tema fácil. É fracturante, polémico e admito que muitos de vocês defendam o casamento. Eu não; sou contra! E isto, como em tudo na vida, não depende nada das opções sexuais de cada um. Mas eu tenho os Bispos do meu lado!
Dito isto, começo mais ou menos onde vos deixei. Promessas de ano novo. Ao contrário de toda a gente que conheço, eu tenho cumprido escrupulosamente as minhas. Más línguas dizem mesmo que denotam um certo prazer sádico no seu cumprimento. A essas más linguas eu respondo: Fuck off! Tivessem escolhido melhor as vossas!
Mas compreendem certamente que o meu afastamento da escrita não se deve ao acaso ou à preguiça, mas antes a um conjunto de temas que têm afectado o início do nono ano do milénio (eu sei que é o oitavo, mas soa melhor e faz ‘pandan’ com 2009). Temas emotivos e empolgantes como o Caso Freeport, o desfecho do Caso Casa Pia, o desemprego - que afecta em especial os emigrantes brasileiros que treinam o Chelsea - a crise financeira internacional e, provavelmente motivado por esta última, o encerramento do quiosque no Jardim das Amoreiras.
No entanto, tão pouco foi qualquer um destes temas que me fez de novo escrever. Fui inapelavelmente impelido para o teclado pelo sugestivo título das notícias de hoje, de que os Bispos nacionais apelam a que se vote contra quem defende o casamento homossexual.
Gosto sempre de pessoas que apelam ao voto! Todos sabemos o problema que representa a elevada abstenção. O alheamento e desresponsabilização que isso representa e que não traz nada de bom. Mas poucos - muito poucos – têm a coragem de dizer assim alto e ainda tão longe das eleições, que é preciso ir votar. Um grande bem haja, senhores bispos. Mas vão ainda mais longe! A Igreja está genuinamente preocupada com os problemas financeiros com que nos deparamos. Preocupada em iniciativas que mitiguem o sofrimento das famílias e os ajudem a superar a crise.
Depois dos apelos à poupança nos preservativos, do incentivo ao recurso a clínicas de aborto clandestinas q - por operarem sem uma estrutura de custos fixos - podem levar mais barato, do exemplo que frequentemente dão em como sai menos dispendioso aliciar rapazinhos novos da Igreja do que pagar a profissionais da prática do amor, agora sugerem que não se desperdice dinheiro em festas sem sentido como o casamento, essa palermice que une duas pessoas pelo amor e isso. Eu só posso concordar. Nada como gente habituada a trabalhar para ter ordenado, a suar para poder pagar os anéis, para nos ajudar a superar o que realmente nos atrapalha a vida.
Certo que este não é um tema fácil. É fracturante, polémico e admito que muitos de vocês defendam o casamento. Eu não; sou contra! E isto, como em tudo na vida, não depende nada das opções sexuais de cada um. Mas eu tenho os Bispos do meu lado!
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